sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Estudo revela detalhes sobre a formação do Sol

Material da nossa estrela se separou de nuvem que lhe deu origem na Via Láctea 30 milhões de anos antes de seu nascimento

Imagem da nuvem molecular Barnard 68, localizada a 500 anos-luz da Terra, feita pelo telescópio VLT, do Observatório Europeu do Sul: estrutura similar à que se acredita ter sido o berçário do Sol e outras estrelas


(O Globo) Assim como todas as estrelas, o Sol nasceu do colapso gravitacional de parte de uma gigantesca, densa e gelada nuvem molecular de gás e poeira. E embora sua idade, cerca de 4,6 bilhões de anos, possa ser deduzida de análises das primeiras rochas formadas no Sistema Solar, obtidas de meteoritos, estas fornecem dados discrepantes sobre a cronologia da gênese de nossa estrela. Agora, porém, estudo publicado na edição desta semana da revista “Science” revela que o material que deu origem ao Sol e seus planetas se separou do restante da nuvem molecular que foi seu berçário na Via Láctea por volta de 30 milhões de anos antes de nossa estrela nascer.

Para chegar a esta conclusão, Maria Lugaro e Alexander Heger, pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, focaram na abundância relativa de isótopos radioativos de dois elementos — iodo-129 e háfnio-182 — encontrados nos meteoritos e cuja inconsistência dificultava estabelecer quando teria se dado, precisamente, essa separação.

— Considerando que os planetas terrestres levaram menos de 100 milhões de anos para se formarem, este período de incubação parece surpreendentemente longo — pondera Martin Bizzarro, da Universidade de Copenhague, em comentário do estudo, também publicado na “Science”.

Criados nas forjas nucleares de alguns dos mais poderosos fenômenos astrofísicos, o iodo-129 e háfnio-182 têm, no entanto, diferentes processos de fabricação, o que permitiu a Lugaro e Heger calcularem quando eles e outros elementos foram introduzidos pela última vez na porção de material da nuvem molecular que deu origem ao Sistema Solar, e assim determinarem o momento em que ela começou a entrar em colapso e se separou do resto.

Lugaro e Heger revelaram que o háfnio-182 pode ser produzido tanto por um processo conhecido como reações lentas de captura de nêutrons, oriundo da evolução de estrelas como o Sol, quanto pelas chamadas reações rápidas de captura de nêutrons, deflagradas pelas imensas explosões de supernovas que marcam o fim da vida de estrelas muito mais maciças que a nossa. Já o iodo-129 só seria resultante deste último tipo de reação, numa mudança de paradigma que possibilitou conciliar a aparente discrepância nas suas abundâncias relativas no Sistema Solar.

Segundo os pesquisadores, estas diferentes origens dos dois isótopos no material do qual o Sol e os planetas nasceram refletem dois momentos distintos da evolução da nuvem molecular. Nesta visão, a atual abundância de iodo-129 no Sistema Solar é resultado de um último fenômeno capaz de provocar as reações rápidas de captura de nêutrons que espalhou o elemento nela cerca de 100 milhões de anos antes de o Sol nascer. Já o háfnio-182 teria sido acrescentado pela última vez na receita apenas 30 milhões de anos antes de nossa estrela começar a brilhar.

— Usando núcleos radioativos pesados encontrados em meteoritos para cronometrar estas adições finais, temos pela primeira vez um entendimento mais claro sobre a pré-história do Sistema Solar — acredita Lugaro. — Agora, podemos dizer com confiança que o último 1% do ouro, da prata e da platina foram adicionados ao material do Sistema Solar cerca de 100 milhões de anos antes de o Sol nascer. Já o último 1% do chumbo e outros elementos de terras raras, como aqueles usados para fabricar telefones celulares, foi acrescentado muito mais tarde, no máximo 30 milhões de anos antes do nascimento do Sol.

De acordo com os pesquisadores, só depois desta última adição é que o material do Sistema Solar entrou em seu período de incubação, no qual o o Sol e outras estrelas se formaram no berçário da nuvem molecular.

— Isso nos oferece a chance de determinar o tempo de vida do berçário onde o Sol nasceu, o quão maciço ele era e quantas estrelas nasceram juntas nele — conclui Lugaro.

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