sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A instabilidade do Sol

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Para parafrasear um clássico shakesperiano, seguramente se pode dizer que há mais coisa sob e no interior do Sol que a ciência é capaz de revelar.

A questão, aqui, envolve mais especificamente os ciclos médios de 11 anos entre um mínimo e um máximo de explosões solares.

Talvez boa parte das pessoas surpreenda-se ao contatar que o velho e bom Sol é uma enorme bomba atômica, uma bomba de hidrogênio, para ser mais específico, e explode há 5 bilhões de anos.

Em 1843, o astrônomo alemão Samuel Heinrich Schwabe se deu conta de que manchas solares, pontos escuros na superfície do Sol, variam entre um máximo e um mínimo num período médio de 11 anos.

Isso significa dizer que, ainda em média, a cada 5,5 anos, o Sol vai de um mínimo de manchas a um máximo. Ou de um máximo a um mínimo.

A observação de manchas solares, talvez valha a pena acrescentar, são anteriores a Galileu (1564-1642). Mas foi o florentino quem explorou a existência delas para contestar Aristóteles e a idéia de que, a partir da esfera da Lua, o Universo seria perfeito e imutável.

A questão, neste momento, é que o Sol anda mais calmo que seria de se esperar, com uma presença mínima de manchas.

Para dar inteligibilidade mínima a essa situação é preciso dizer que as manchas estão associadas a explosões no corpo da estrela, que ejetam quantidades enormes de matéria (plasma) a distâncias de até 500 mil km no espaço.

As explosões são acompanhadas do que é conhecido como “vento solar”, uma chuva de partículas que pode afetar as linhas de transmissão de eletricidade, comprometer a operação de satélites em órbita e produzir os fascinantes espetáculos das auroras polares, entre outros inúmeros efeitos.

Certo fundamentalismo religioso, entre outras versões catastrofistas, pode interpretar que razões de natureza humana estariam afetando também o Sol, depois de comprometer a Terra inteira com o aquecimento global e mudança climática. Evidentemente que isso não faz sentido, ainda que um dia os humanos possam sonhar em ampliar a vida do Sol.

A verdade, no entanto, é que o clima é um assunto extremamente complexo, entre outras razões porque sofre interferência do Sol. E o Sol, apesar de uma estrela de meia-idade e relativamente bem comportada, também tem suas vaciladas, e isso significa que, de um ponto de vista de radiação (quantidade de energia que emite para o espaço e afeta diretamente a Terra), nem sempre é constante.

E isso, suspeitam cada vez mais os climatologistas, tem efeitos complexos na Terra, até mesmo de natureza social.

Um exemplo disso?

Há um período prolongado de ausência de manchas na superfície do Sol, chamado Mínimo de Maunder (em homenagem ao astrônomo americano que fez essa descoberta), entre os séculos 17 e 18, em que as temperaturas caíram e as chuvas diminuíram.

Há quem acredite que essa situação climática tenha sido uma espécie de gatilho que disparou a Revolução Francesa, em 1789.

Por que?

A resposta é bastante interessante: a situação social na França era bastante delicada e a rarefação de chuvas fez com que a produção agrícola diminuísse, complicando ainda mais a qualidade de vida e isso teria sido a gota d’água para a revolução explodir.

É claro, convém ponderar, que o Sol não foi a razão fundamental desse movimento, mas teria dado sua contribuição.

Agora, com uma inatividade não esperada (apenas 20 manchas foram observadas mais recentemente) o pico de explosões previsto para 2013 não deve ocorrer. E isso deve fazer dele o pico mais fraco desde 1928.

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