quarta-feira, 1 de abril de 2009

Em busca de gêmeos na Galáxia

Uma nova proposta defende que estrelas formadas junto com o Sol podem ser reconhecidas, mesmo depois de bilhões de anos


Encontrar irmãos do Sol – estrelas com mesmo DNA estelar
pode ajudar a elucidar alguns pontos da história do Sistema Solar

(Scientific American Brasil) Durante décadas os astrônomos viveram à caça dos chamados “gêmeos solares” – estrelas com a mesma idade, massa, temperatura, luminosidade e abundância química do Sol. Mas sair procurando os irmãos a esmo é como encontrar na rua uma pessoa com uma roupa igual a sua e chamá-la de irmão, observa Simon Portegies Zwart, astrofísico computacional da Universidade de Amsterdam, Holanda. Zwart quer procurar irmãos verdadeiros de nossa estrela – aqueles que realmente se formaram junto com o Sol e ainda tenha consangüinidade para comprová-lo.

Até o momento, astrônomos descartaram a idéia de encontrar qualquer parente, cerca de 4,3 bilhões de anos depois, pois acreditam que o aglomerado estelar que deu origem ao Sistema Solar já tenha se dissipado. Mas em um novo trabalho – a ser publicado, em breve, no Astrophysical Journal Letters – Zwart sugere com método promissor para encontrar 50 ou 60 estrelas parentes de nosso Sol, uma pequena fração dos mil a 6 mil membros do aglomerado original que ele acredita estar localizado a cerca de 300 anos-luz da Terra.

Zwart propõe identificar irmãos solares por meio de seu movimento próprio ou movimento aparente ao longo de nossa linha de visada, sua posição no céu, e suas assinaturas químicas – semelhantes a um DNA estelar. Esses sóis, observa ele, teriam massa igual ou menor que o Sol (aproximadamente uma massa solar) e abundância química idêntica à do Sol

“Há alguns meses,” observa o astrofísico, “eu teria dito que procurar os irmãos do Sol seria uma perda de tempo.” Mas Zwart mudou de idéia depois de calcular a velocidade do Sol retroativamente, nos últimos 4,6 bilhões de anos. Partindo de um suposto ponto inicial, na constelação de Centaurus, ele criou um cenário mostrando como eram os membros do nosso aglomerado original e como se dispersaram ao longo do tempo.

“Para minha surpresa”, revela ele, “essas estrelas de todos os tipos permaneceram nas vizinhanças e preservaram muito bem seus movimentos e posições próprios. No entanto, ainda não está muito claro se poderemos realmente reconhece-las. Entre mais de um milhão de estrelas situadas a aproximadamente 300 anos-luz de distância a expectativa é de que cerca de 50 delas sejam gêmeos do Sol.”

Leslie Looney, astrofísico da University of Illinois, em Urbana–Champaign, endossa a idéia, em princípio, mas prevê que os astrônomos nunca saberão ao certo se uma determinada estrela é mesmo gêmea do Sol. Ele acredita que só será possível selecionar um grupo de prováveis irmãos

E se astrônomos observacionais forem capazes de identificar algumas dezenas de parentes do Sol isso provocará uma enorme mudança na nossa compreensão de como o Sistema Solar se formou e evoluiu, avalia Zwart

Um de seus orientados já está esquadrinhando catálogos estelares em busca de prováveis candidatos a testar sua metodologia. Zwart acredita que o melhor lugar para procurar é no plano da Galáxia, na constelação de Vela e Cygnus, ao longo da trajetória solar em torno do centro galáctico.

A missão Gaia, da Agência Espacial Européia, em 2011, encarregada de medir a posição e os movimentos de um bilhão de estrelas na nossa vizinhança da Galáxia, deve ajudar muito nessa empreitada.

Eric Mamajek, astrônomo da University of Rochester, especialista em dinâmica estelar, aprova a proposta de Zwart para procurar colegas da turma da faculdade de 1993, a partir de uma amostra de pessoas beirando os 40, em Manhattan. “Com muita sorte, você pode encontrar algumas pessoas depois de uma busca exaustiva, mas tentar inferir de onde elas vêm, observando apenas o momento atual de suas vidas, só levará à frustração” prevê.

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